Os maiores erros fiscais, logísticos e contabilísticos dos senhorios
Artur Mariano — Co-fundador Arrowplus, investidor imobiliário e analista
Artur Mariano, PhD é investidor imobiliário há mais de 10 anos, accionista maioritário da ArrowPlus, coach e analista imobiliário. É doutorado (PhD) pela Universidade Técnica e Darmstadt, na Alemanha. É analista imobiliário na ArrowPlus e conta com passagens e ligações a várias consultoras de renome, como a Empiricus Research Portugal. Escreve regularmente para a impressa e websites de expressão ligados a finanças, economia ou imobiliário.
“Investir em imobiliário: do 0 ao milhão” foi escrito por Artur Mariano, PhD, com vista a ser a referência dos livros em Portugal para investimento imobiliário. O livro cobre vários aspectos do investimento imobiliário, incluindo modelos de investimento, questões relativas a financiamento e procura de imóveis, entre muitos outros. Este livro é direccionado para todos os investidores, desde os iniciantes aos experientes, e para pequenos e médios senhorios.
Caro(a) leitor(a),
Ao longo do tempo fui recebendo algumas dúvidas sobre vertentes fiscais e contabilísticas, e neste artigo queria sumariar isso porque efetivamente há assuntos que devem ser arrumados “para sempre”.
A emissão de recibos de renda e cauções
“Emito agora o recibo da caução, no final não emito o das rendas e pronto!”, pensam vários senhorios.
Ano 2020
Rendimento = 5.000,00€
Cauções (rendimento) = 1.000,00€
Imposto irá incidir sobre = 6.000,00€
Ano 2021
Rendimento = 0,00€
Custos = 1.000,00€ (caução devolvida)
Imposto irá incidir sobre 0€
Naturalmente que este caso está extremamente simplificado, porém ilustra bem o processo em que a devolução da caução se dá num ano em que não há rendimentos (analogamente poderia considerar um ano em que teria muitos custos) e portanto o custo da devolução da caução não muda, realisticamente, muito no imposto a pagar…
Se quiser saber mais sobre isto, leia o livro do Dr. Marco Libório “Como poupar em impostos no imobiliário”.
Não recorrer a um contabilista certificado
Não fazer ou não saber fazer contas
Como eu disse antes, é comum em Portugal as pessoas não quererem pagar a um especialista para resolver um problema. É uma questão cultural. Exceto a um médico especialista, a maior parte das pessoas tem imensa resistência em pagar a um especialista.
Mas convido-o(a) a pensar no assunto. Num negócio imobiliário falamos sempre de dezenas ou centenas de milhares de euros, no mínimo. Mesmo num negócio de 50.000,00€, o custo de um especialista será sempre uma coisa muito reduzida em função dos montantes em causa. Vamos admitir até que tem que pagar 500,00€ a esse especialista, ou seja, 1% do valor do negócio.
A pergunta que tem que fazer é se o especialista consegue otimizar o que vai fazer (em custos ou receita) em mais de 1%. Se assim for, é trivial perceber que compensa pagar a um especialista.
Aliás, se há área em que faz sentido pagar a um especialista para melhorar o que é feito é precisamente no imobiliário porque estão em causa, normalmente, valores avultados.
Noto, contudo, uma enorme resistência por parte das pessoas quanto a este assunto. Primeiro, ao longo dos anos percebi que os investidores iniciantes se preocupam em gastar muito tempo para obter a informação online, em fóruns dispersos, informação essa dada por outras pessoas. E não tenho nada contra isso! Desde que a informação seja bem dada…
Ainda me faz confusão como é que as pessoas aceitam informação gratuita, dada por estranhos, online, para fazer os maiores investimentos da sua vida.
Caso a verifiquem, tudo bem. Mas achar que essa informação chega não faz sentido! Em média um profissional estuda mais de 4 anos para tirar um curso que lhe permite exercer a sua profissão. E aprende durante toda a vida enquanto trabalha.
Mas depois vejo outra classe de pessoas: as que se formam e miraculosamente se “esquecem” dos princípios base. Outro dia, um antigo aluno do nosso curso nível I marcou uma hora de consultoria comigo. E basicamente durante essa hora eu estive a aplicar os princípios que ensino no curso… nomeadamente as contas todas do negócio.
É que considerar só valores de compra, obras e impostos toda a gente sabe fazer. Mas poucos sabem investir em imobiliário a sério. Por isso a maioria não deve estar a fazer as coisas muito bem, concorda? Seja melhor a que a maioria, aprenda a fazer contas e faça-as!
Não ser paciente
Warren Buffett é um exemplo clássico disto. Durante anos teve 137 mil milhões de doláres (quase 50% do PIB português à data) à espera do melhor negócio.
Segundo o pensamento de Warren Buffett, “ O mercado financeiro é uma ferramenta para transferir o dinheiro dos impacientes para os pacientes”.
Mas atenção, uma coisa é a bolsa e Warren Buffett, outra é o investidor imobiliário comum!
Enquanto lhe digo (a seguir) que ser demasiado paciente não é uma boa característica, bem pelo contrário, a verdade é que já conheci pessoas que depois de decidirem que queriam investir, se atiraram ao primeiro investimento que encontraram.
Nada mais errado.
Se eu entendo que é um péssimo exemplo esperar anos para fazer um investimento “porque o mercado pode corrigir”, também o é atirar-se ao primeiro imóvel que encontra.
Em média eu hoje em dia adquiro um de cada 10 imóveis que avalio. Isto considera que já muitos imóveis chegam até mim “filtrados”. E mesmo assim preciso de 10. Porque haveria um iniciante precisar de um ou dois?
Ser demasiado paciente
Como?
Em cima digo-lhe que um dos maiores erros é não ser paciente… e agora digo-lhe que é ser demasiado paciente?
Sim, da mesma forma que vejo vários investidores “atirarem-se” a um negócio sem se munirem do conhecimento certo (ou pelo menos necessário para fazerem negócios realmente rentáveis), também vejo aqueles que demoram uma eternidade a começar.
Aquele cliente que nos diz que já comprou os nossos livros, até já fez um curso ou outro e viu naturalmente todos os nossos vídeos no Youtube…
A verdade é que não agir significa que tudo nos passe ao lado na vida. No investimento não é verdade. Ao mesmo tempo que realmente recomendo ser prudente e aplicar o devido respeito e parcimónia necessários, acho que ninguém pode esperar para sempre.
Essa é a verdade.
É que consumir vídeos, livros e cursos não nos torna investidores… E a verdade é que vejo gente a fazer isto durante anos. ANOS.
É psicologia… o ser humano prefere aquilo que conhece e que é confortável. Detesta o desconhecido. Procrastina. E até certo ponto, tudo bem. Mas ao mesmo tempo é necessário perceber que isso é parte da componente humana (da psicologia humana) e que é necessário contornar – racionalmente – isso.
Lembre-se que mesmo que um investimento não seja ótimo (ou tão bom como um que viu no nosso canal ou nos nossos cursos), um investimento razoável é melhor que nenhum investimento. Especialmente porque um investimento pode ser liquidado.
Um abraço,
Artur Mariano.